Recentemente, a cosplayer Sincerely Nymphie, dos Estados Unidos, recebeu um ultimato em seu TikTok por usar a palavra “kawaii”. No vídeo, em que faz cosplay da Asuka, de Evangelion, o anônimo auto-declarado japonês escreveu em inglês que ela, como estrangeira, não devia usar a palavra “kawaii”, pois estaria insultando os japoneses e que o uso seria apropriação cultural.

O comentário incitou uma série de outros comentários atacando a cosplayer, tanto em críticas ao cosplay em si quanto a ameaças a sua integridade física. O perfil dela recebeu muitas denúncias e foi suspenso pelo TikTok.

Em entrevista ao Asahi Shibum Globe, a cosplayer disse ter tentado se desculpar nos comentários, mas os ataques continuaram, inclusive indo para suas outras redes. Em seu Instagram, ela se desculpou, falando que a partir dali mudaria sua postura e não usaria mais a palavra “kawaii” nem usaria mais músicas japonesas em seu conteúdo.

Mas será mesmo um caso de apropriação cultural? A modelo japonesa Kure-chan, que é totalmente voltada em cultura kawaii, saiu em defesa da cosplayer estado-unidense denunciando racismo. Em suas redes e em entrevistas, a modelo explicou que existe um forte racismo contra cosplayers negros no mundo todo e que isso deve ser combatido, além de deixar claro que a cultura kawaii é uma cultura pacífica e aberta a todos.

A apropriação cultural ocorre quando certos elementos específicos de uma cultura são usados por um grupo de cultura diferente e tem uma reflexão muito profunda, filosófica e política, indo muito além da velha discussão sobre se alguém pode ou não usar um cocar, turbante ou quimono sem pertencer ao grupo original e trazendo questões complexas que envolvem o apagamento étnico e racismo que muitos grupos sofrem.

O fato é que este caso não foi de apropriação cultural, como diversas personalidades japonesas apontaram; foi um caso muito claro de racismo. A cosplayer sofreu retaliações e teve até sua conta suspensa por denúncias falsas porque fez cosplay de uma personagem com tom de pele diferente do dela. E essa não foi a primeira vez que cosplayers negros são atacados por esse motivo.

No Brasil, durante o evento Oikosplay, em abril, cosplayers negros foram convidados a um painel para discutir como combater o racismo dentro desse meio, mas no fim o debate se tornou uma grande propaganda de disseminação de ideias racistas e ataque a ativistas, como apurou a Ponte Jornalismo em seu site.

Para o Asahi Shibum, Kure-chan explicou que a cultura kawaii nasceu justamente do intercâmbio entre pessoas de outras culturas. Ela denunciou de forma muito enfática o racismo que existe no Japão e convidou a todos que a acompanham a lutar contra.

“Vamos continuar trabalhando para que a cultura kawaii continue sendo uma cultura pacífica e que reconhece as expressões dos outros.”

Fonte: Asahi Shibum Globe.